People don’t change (?)

house

A estreia da 6a.  temporada de “House” causou impacto. E não foi só porque o episódio se passou inteirinho dentro do hospital psiquiátrico onde o doutor Gregory House (Hugh Laurie) foi parar depois de ter alucinações. Vamos combinar desde já que esta história de “maluco beleza” só é bonitinha na canção. A loucura é um bicho feroz demais para a gente enfrentar e qualquer ficção manicomial impressiona desde seu ponto de partida.

Mas não foi exatamente isso que me causou espanto e sim os sinais de que House – será? – talvez esteja pela primeira vez  vacilando em suas convicções.  House  é um jiló e nos fascina exatamente por isso: amargo de doer, chega à boca com sabor incontornável. Mas também incomparável, para quem gosta de comer.

Dez entre dez amigas minhas adorariam levá-lo para uma das macas do hospital em dia de plantão. Provavelmente as mesmas dez não se importariam que não houvesse maca disponível e cederiam aos encantos do médico ali mesmo, na salinha onde ele pega os remédios para a dor na perna.

Descontado o furor causado pelo charme do personagem – para o qual colabora o enorme talento de Hugh Laurie, formado no rigor e no humor do teatro inglês – acho que o buraco de House (ops) é mais embaixo. Ele não é exatamente um galã, embora mulher não se incomode mesmo com homem feio. A plateia masculina também o venera, e seu sucesso parece residir no fato de ele ser o que a gente queria ser… caso se não existisse a trava do superego.

House diz cada palavra que gostaríamos de dizer, faz o que a gente queria fazer, não respeita o politicamente correto. Se o interlocutor é mala, ele atropela, ainda que seja uma velhinha ou de uma criança. Com ele, asneira é tratada a bengalada.

Um dos pupilos mais castigados por House é Foreman (Omar Epps). Negro, ex-delinquente, ele é “gente que faz, um neurologista competente  e dedicadíssimo. Mas também é um cricri monumental e, volta e meia, revela a faceta carreirista.  Não há motivo, então, para que House se apiede dele pelo fato de ser minoria. Assim como não há paliativos com seu melhor amigo, Wilson (Robert Sean Leonard), que nos derrete quando lembramos de “Sociedade dos poetas mortos”, mas é um pastel. Pastel doce, iguaria fina,  mas pastel.

Nesta nova temporada, House cozinha o jiló no vapor para diminuir a amargura. Ele se envolve de verdade com a mãe de uma das pacientes da clínica, sofre quando ela anuncia que vai mudar de cidade e estende  a mão da amizade para seu colega de quarto rapper e cucaracho. Um gesto inimaginável nos primeiros anos da história.

O lado menininha e happy end da gente certamente comemora o que parece uma redenção (atire o primeiro controle remoto quem nunca chorou diante de Meg Ryan). Mas alguns dos outros lados ficam com medo.

O que vai acontecer se House endireitar? Sei não… Acho que algo dentro de mim pede que ele cumpra sua maior máxima – “People don’t change”.  Se House ficar igual a todo mundo, talvez a gente desapaixone.

3 thoughts on “People don’t change (?)

  1. é… por mais que no fundo eu queria que ele tivesse sedido à Cameron quando eles sairam para jantar e quisesse outras tantas vezes que ele se apaixonasse pela 13, ou pela Cuddy, eu acho que perderia toda a graça. Um house doce não é um house…eu prefiro ele na moto e sempre no limite… dando este ar e categoria de homem até então inexistente… pelo menos não no meu mundo.
    beijos, Dani! seu blog tá demais

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  2. Ver o House admitindo erro e demonstrado sentimento foi uma grande surpresa. Uma carta escondida na manga dos roteiristas que parece que foi tirada na hora certo e funciou muito bem. Agora, não acredito numa mudnça total do personagem. Acho que isso representaria uma beco sem saída para a série. Se bem que no fim da quarta temporada eu tb achei isso e vi que estava errado. O personagem é muito bem escrito e contruido. Isso fascina.

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