Jogos de guerra

"Contingente", de Adriana Varejão, uma das obras em "Jogos de guerra"

Nosso cabeçalho traz um detalhe de Contingente, fotografia de Adriana Varejão que você também vê acima e é um dos trabalhos presentes em Jogos de guerra, cuja inauguração será no dia 11 de julho, a partir das 19h, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. A ideia inicial de Leo Ayres foi transformada em uma exposição com 62 artistas, duplas e coletivos pela curadoria desta que vos fala, e que foi montada pela primeira vez no Memorial da América Latina, em março e abril do ano passado.

Trazer a mostra para o Rio jamais teria sido possível sem a aventura de São Paulo. Uma jornada deliciosa, que nos fez ocupar a imensidão redonda do prédio de Oscar Niemeyer – e é muito difícil montar uma mostra em prédio dele, acreditem. Através de Jogos, me aproximei de artistas daqui, de lá e de outras partes do país com os quais nunca tinha trabalhado e também revi velhos conhecidos. Esta(s) (re)aproximações já renderam outros frutos. Como sou grata a “Jogos de guerra”. Como continuarei sendo grata depois de 11 de julho.

Mas é preciso dizer que o nome com que classifiquei o projeto na sua versão paulistana, “aventura”, teve um lado que saiu bem caro para mim e para o Leo, em múltiplos aspectos. “Fazer acontecer” é bacana; mas às vezes, quando “fazemos acontecer”, mascaramos uma indigência institucional que grassa no Brasil. Bancamos fazer em São Paulo uma exposição que teve custos de montagem saídos do nosso bolso. Não faria isso novamente, por acreditar que isso colabora com antigos vícios.

Apesar da excelência de nossos artistas, ainda carecemos de profissionalização, tanto no campo institucional quanto nas galerias de arte. Ainda há uma cultura de que artista e qualquer outro profissional de arte não precisa receber pelo seu trabalho, que fazer uma exposição já é um prêmio. “Vai te abrir portas”, diz o marchand que convida para uma curadoria sem pró-labore; “vai firmar seu nome”, argumenta o diretor que pede uma mostra sem seguro. Mesmo que tudo seja verdade, não é assim que tem que ser. Artistas, produtores e curadores têm profissões e carreiras. O que fazem cotidianamente é trabalho, e não um hobby diletante.

Agora, na Caixa, nossa situação é um pouco diferente, sobretudo na tranquilidade que temos para resolver até as coisas que estão longe de ser ideais – no orçamento e em todo o resto. Reflexo de um processo um pouco mais tranquilo, a versão carioca da exposição está mais serena e mais orgânica. Doída, sim, mas sem perder a ternura, nem a piada. Mais jogos e menos guerra, enfim.

Não seria possível chegarmos até aqui sem a generosidade do Leo Ayres, que tinha uma ideia inicial com este título, Jogos de guerra,  e mais dois artistas além dele. E viu seu projeto ser metamorfoseado em um sonho um tanto megalô da curadora que resolveu convidar para a empreitada. Não seria possível, também, fazer nada sem os artistas, que foram para São Paulo acreditando apenas na nossa palavra. Um beijo especial para Nelson Leirner e Cildo Meireles, pelos motivos que eles bem sabem. E outro para Eduardo Brandão, que em 2010 mobilizou acervo e equipe da Vermelho confiando que não éramos tão loucos quanto parecíamos. Ou éramos até mais, sei lá.

Agradeço também a Ana Fay, companheira dos primeiros passos para São Paulo; a Walton Hoffmann, pelas conexões; a Walter Goldfarb, por transformar seu ateliê em ponto de partida para o transporte Via Dutra. Meu muito obrigada também a Nara Reis, Amanda Bonan e Victor Aragão, que toparam o Memorial na raça e repetem a dose no Rio. Victor é um designer quase telepata, que captou no rosa de nossa nova logomarca toda a amenização que eu desejava para a remontagem desta guerra.

Renovo minha alegria por montar novamente esta exposição com Pablo Vilar, craque hermano que enfrentou a imensidão de Niemeyer e botou 100 trabalhos de pé em dois dias. Nada mais justo que importá-lo agora para o Rio, onde vou levá-lo para comer medialuna da Colombo. Promessa feita.

Bruno Castello, nosso lorde, assina o desenho de montagem para a Caixa. Obrigada a ele pela criatividade e a paciência para driblar nossas condições tão franciscanas.

E há ainda uma cereja neste fim. Uma não, três. A mostra carioca me trouxe de volta antigas aliadas: Izabel Ferreira, Raquel Silva e Nice Jourdan. Craques das 11, elas fazem com que eu me sinta capaz de enfrentar qualquer trincheira.

Peço desculpas pelo post tão afetivo e pessoal.

Com o mesmo afeto e o mesmo calor, espero todos vocês na segunda, dia 11, a partir das 19h.

Ao jogo, à festa!

PS. Chegem cedo. Haverá performances durante toda a noite.

8 thoughts on “Jogos de guerra

  1. Daniela, não pude estar ontem na abertura da exposição, mas fui visitá-la hoje. Venho lhe dar os parabéns pela consistência e coerência do que vi, embora nem tenha tido tempo de percorrer tudo com a atenção merecida – vou ter que voltar umas duas ou três vezes. Fiquei feliz de perceber como o conceito de curadoria como uma parceria com o artista parece estar realmente enraizado em você, e como, mais até do que o evidente cuidado com a ocupação do espaço de maneira a provocar diálogos entre as obras, a própria escolha das obras transparece um diálogo constante com o público, com a temática, com os artistas. Você sabe que já trabalhei no CCBB, atuando diretamente com exposições de várias modalidades artísticas e históricas. Não me lembro de ter visto uma em que fosse tão evidente a idéia de que uma exposição é em si uma obra de arte feita de obras de arte, que o curador compõe como o Duke Ellington reescrevia continuamente seus arranjos orquestrais a partir dos improvisos dos músicos. Fiquei com a impressão de que as obras expostas cresceram e ganharam em sentido pelo fato de estarem na exposição. O que significa que o seu esforço compensou. Volto nos dias seguintes para ver tudo, mas os parabéns deixo desde já. Grande beijo.

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  2. Daniela, concordo com seu ponto de vista que as instituições devem dar condições para que as exposições ocorram!! Seguro, transporte e, principalmente, pró-labore para os artistas!!!

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  3. Daniela, já admirava e acompanhava seu blog ; após te conhecer no curso da Casa do Saber , admiro ainda mais sua clareza e pontos de vista.
    Pelo visto a exposição deve estar linda, estarei lá.

    Bjs.

    Roberto Müller

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  4. Daniela, você abre a o coração sobre as condições para se trabalhar com a arte no Brasil. Quando se vê a exposição montada não se tem noção do sacrifício e das dificuldades enfrentadas. Parabéns a você ao Leo e aos demais artistas. Não pude ver a mostra em São Paulo, mas estarei aqui no Rio. Não se desculpe, vá em frente com essa determinação e competência adimiradas por todos nós. Beijos Marcio Fonseca

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