Livro-obra, de Lygia Clark, no Ipad

Livro-obra , de Lygia Clark, acaba de ser transformado em aplicativo com download gratuito pela Apple Store. A iniciativa é do Itaú Cultural, dentro das atrações paralelas à mostra panorâmica da artista em cartaz na instituição, em São Paulo. A adaptação teve supervisão e curadoria de Alessandra Clark, neta de Lygia, e interatividade, programação e design pensados pela 32Bits Criações Digitais.

Tive o privilégio de acompanhar de perto parte da confecção deste trabalho brilhante realizado pela 32Bits, empresa de Daniel Morena, Nei Caramês e Danilo Medeiros. Prometi ficar quietinha aqui no blog até a Revista do Globo publicar a notícia do dito cujo, o que aconteceu hoje, na ótima reportagem de Maiá Menezes.

A primeira a coisa a dizer: baixe agora, clicando aqui, e só depois continue a ler. Trata-se de um dos aplicativos de arte mais inovadores já feitos em todo o mundo. E quem se der ao pequeno trabalho de ver o vídeo postado aí em cima vai perceber com muita facilidade que não estou exagerando, apesar da ressalva que faço logo aí embaixo.

(Uma ressalva entre parênteses: trabalhei com a 32Bits em dois projetos – o primeiro foi a  mesa interativa “O Rio de Weissmann”, experiência-exposição da qual fui curadora e que se inseria na última mostra panorâmica do artista, realizada por Marcus Lontra, em dezembro do ano passado, no Centro de Artes Hélio Oiticica – CAHO. O outro foi a Sala de Troféus do Fluminense, inaugurada em junho deste ano, com a assinatura da 32 na identidade visual e em todas as interatividades e experiências digitais. Sou suspeita, portanto. Façam o devido desconto a estes elogios. Estou segura de que, depois de feito o abono, o app ainda brilhará em um pódio imaginário das excelências).

Mas, afinal de contas, o que Livro-obra tem que muitos não têm? Para começar, trata-se de um trabalho que transpõe para a experiência digital o manejo sofisticadíssimo do livro físico, em papel. Isso tem sido raro em e-books e apps, mais raro ainda em aplicativos de arte, hoje capitaneados por alguns poucos museus do mundo. Apesar de seu enorme potencial, aplicativos de arte ainda são pouco explorados por instituições ou projetos autônomos. Os poucos museus que fazem isso com frequência e êxito têm investido mais em aplicativos catalográficos e de referência do que propriamente em uma pesquisa sobre as novas formas de leitura e experiências do conteúdo. Uma boa exceção é o Laboratório de Arte do MoMA (conheça e baixe aqui).

Voltemos, no entanto, para Lygia. Como já disse,  o Livro-obra digital faz uma emulação do Livro-obra  em papel. Lançado originalmente em 1983, cinco anos antes da morte da artista, numa edição de 24 exemplares, o Livro-obra reunia escritos de Lygia sobre algumas de suas principais descobertas e rupturas ao longo da carreira artística – a “linha orgânica”, a quebra da moldura, o lançamento da obra rumo ao espaço, os “Bichos” – e convidava o leitor para experimentá-los ao longo da leitura, através do levantar de áreas da página, de gesto e dobras com o papel.

Livro-obra, versão digital, faz exatamente a mesma coisa. Em dois volumes, permite o leitor arraste, dobre e levante áreas da tela, que tem as páginas na ordem exata em que foram lançadas e ainda vem com a textura do papel original. Um mimo a mais é a possibilidade de interação e compartilhamento: é possível enviar, para si mesmo e/ou para um amigo, alguns tipos de “Bichos”. O leitor ou seu destinatário recebem no e.mail o “Bicho” pronto para impressão, com todas as instruções para que ele ganhe vida no papel.

Agora pare de ler e comece a experimentar. A esta altura o download do seu Livro-obra já foi concluído. Vai lá.  Depois me conta?

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