O caso das sardinhas Coqueiro

Este já faz tempo  e preserva alguma coisa do projeto original, embora também seja um retrocesso. Acima, vemos o projeto de Alexandre Wollner, artista egresso do concretismo paulista e um dos pioneiros do design no Brasil, para as Sardinhas Coqueiro. O projeto é de 1958 e Wollner aplicou princípios construtivos nas embalagens, popularizando a vanguarda no supermercado, assim como Lygia Pape fez com os biscoitos Piraquê.

A logomarca apresenta as folhas do coqueiro feitas a partir de uma sequência de círculos seccionados. Na lata, o próprio peixe é feito a partir de um triângulo e de um quadrilátero – um losango alongado – que se encontram pelos vértices. Os três sabores dos molhos são comunicados da forma mais simples possível: duas cores primárias – amarelo (azeite) e vermelho (tomate) – e uma secundária, verde (limão), que são facilmente associadas ao ingrediente principal de cada mistura.

O projeto resistiu até 2000, quando a Quaker do Brasil, atual proprietária da marca, adulterou a identidade visual sem sequer consultar o designer. O coqueiro em forma de ícone foi substituído por uma ilustração  e depois desapareceu da lata (veja à esquerda, na versão tomate, e à direita, na versão light). A sardinha virou algo disforme, de geomestria indefinida,  diminuindo assim a rapidez de memorização da marca. É um macete ótico muito usado pelos artistas construtivos: geometria e ícone são de fácil memorização, enquanto um desenho “completo” leva a tempo para ser processado por nossa inteligência visual.

Wollner, um craque, sabia disso quando “limpou” peixe e coqueiro, transformando-os em formas básicas. A lata atual peca ainda na adição de sardinhas no fundo colorido (uma redundância completa) e na profusão de fios e outros elementos que perturbam a absorção de informação.

Ficou muito mais difícil gravar a marca da Coqueiro, prova de que o projeto inicial de Wollner, além de muito mais belo do que o em vigor hoje, também era mais eficiente.

27 thoughts on “O caso das sardinhas Coqueiro

  1. Quanto atavismo gráfico nestes comentários. Com todo o respeito ao mestre Wollner, mas seu design é datado, serviu a uma época com poucas informações visuais. O grafismo mudou, a linguagem visual por conta da era digital mudou, não dá mais pra ficar amarrado à estética formal que fez a personalidade de tantos produtos. Hoje a informação se dá através de outras formas, gostem ou não os puristas dos efeitos e 3Ds, esta é a realidade visual e virtual que os consumidores que nasceram apertando botões e teclando nos MSNs da vida, estão acostumados. E ái de quem não souber fazer design para a nova era (neoclássica?!? – sic…)

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    1. Marcio, bom dia! Ninguém se posicionou contra as mudanças e renovações. O problema é que elas mudaram a identidade visual da marca para pior, sem preservar qualquer ligação com a logo original, o que – se você for designer saberá que estou falando – é um crime em termos de identidade visual. Beijos e obrigada por opinar aqui. Volte sempre.

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  2. Me dá uma tristeza perceber um processo de deseducação do olhar. Pra mim o que fica é uma sensação de emburrecimento, de substituição do design limpo, inteligente, comunicativo por uma mistureba de informações. Reflexo do mundo neoclássico de hoje em dia.

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  3. pensa com migo se wollner colocasse um coqueiro de um lado e um coqueiro do outro e uma rede de pesca amarrada de coq. para o outo e uma sardinha deitada nesta rede o comsumidor tambem nao deixaria de comsumir o produto porque em 1958 ou seja 10 anos antes do meo nascimento e ate a data de hoje ninguem vai de deixar de comer por um simples desenho geometrico pois em pleno seculo XXl o que volga e preço e qualidade e isto a QUAKER DO BRASIL tem e quanto ao novo desenho que a QUAKER desenhor e segundo as observaçoes que eu li e deixou alguns chateados isso e aguas de mares passada pois outras empresas creio eu faria o mesmo pois se eu comprei paguei entao quem manda sou eu nos meos produtos ok isso e so minha opiniao parabens para as ideias da epoca de 1958 e parabens para os atuais proprietario pois eu sou um simples zelodor de condominio que quando criança e ate criar nossas filhas eu e minha esposa saboremas este produto.FELIZ 2010 COM A PAZ DE DEUS EM SUAS VIDAS Rogerio e familia.

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  4. O projeto de Wollner pode ter sido bom nos anos 60 mas no mercado atual não tem cabimento. O mercado exige outro tipo de linguagem e a palavra de ordem é entender o consumidor. A embalagem antiga fica bem num museu mas em uma gondola seria sumariamente ignorado.

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  5. Ás vezes me pergunto se não estou ficando muito apegado a desenhos antigos, a projetos antigos, mas que, nem pela questão da idade deixo de considerar interessantes.
    O que me assusta é a dúvida de estar me tornando saudosista demais.
    Acho que o redesenho da lata, como alguns outros casos apresentados, mexe com minha história pessoal (sim, eu comi as sardinhas da lata do Wollner, rsss) e isso sim, esse descaso com a “minha” lata de sardinha é que me deixa triste…
    Fica o desabafo de alguém que está tendo a história visual de seus produtos redesenhada pelas novas tendências de mercado…

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  6. O problema não é a mudança da identidade em si. É uma mudança cultural dos produtos industrializados no Brasil. Identidade de massa, algo como fazer o que todos os outros estão fazendo. Abusando de formas tridimensionais, exibindo imagens do produto e por aí vai. Não acho q é uma questão de um projeto ruim. Concordo que o projeto original é muito melhor por inúmeros quesitos mas as empresas seguem tendências e esse é o mercado que consome. É o mercado do caos!

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    1. Estão preocupados com as estampas da lata e outras coisas mais e esqueceram de preservar o sabor do que vem dentro da lata. Antigamente se comia sardinha com gosto e sabor, hoje, colocam qualquer peixe dentro e dizem ser sardinha, estão vendendo gato por lebre, dias desses comprei uma lata e ao abrir, vi dentro da lata, metade de duas pescadas e não sardinha, que pena, o gosto era horrivel. tenho saudedes das sardinhas coqueiro de antigamente.

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      1. Oi, Geraldo, acho que a questão do paladar é uma discussão pra outro tipo de especialista. Só me atrevo a discutir o design, já que foi sobre isso que me debrucei como curadora e historiadora da arte. abs.

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  7. Costumo chamar isto de indignidade..rs. Um desenhista qualquer pega a obra do artista puxa daqui, puxa dalí e mostra a um executivo alienado qualquer. Acaba nisto. As antigas latas são belíssimas e formam um conjuto pragmático e harmoioso. As latas novas parecem um produto qualquer, mais uma marca de sardinhas. Concordo com a apreciação.

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  8. Alguém na Quaker não entende nada de memorização de marcas e design intuitivo. As novas (nem tanto) embalagens de aveia requerem esforço de leitura para saber o que está na prateleira. Uma mistura de cores que confunde. A caixa de Aveia em Flocos é quase igual à de Frutas Vermelhas. É preciso procurar, no meio daquele arco-íris que é a caixa, a designação do produto.

    Assim como a lata de sardinha: pode ser até bonito (há controvérsias), mas confunde. Se o consumidor se cansar de procurar, vai pra outro.

    Mexer em identidade visual requer muita cautela. E competência.

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